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Os países vizinhos bloqueiam os portões e vacinam as áreas de fronteira. Vôos parados por alguns, casas de quarentena montadas por outros. Para o resto da América Latina, o Brasil sempre foi uma nação à parte — uma grande potência de língua portuguesa e criadora de tendências com praias sensuais e música encantadora.
Hoje em dia, é algo totalmente diferente: uma ameaça que espalha Covid rapidamente, se tornando uma espécie de colônia de leprosos regional. Liderando o mundo em mortes diárias e a fonte de uma variante amazônica preocupante, que é mais contagiosa e possivelmente mais mortal, o Brasil é causa de profunda ansiedade para as autoridades mundiais de saúde e seus vizinhos, que estão bloqueando seus portões. O Peru fechou vôos de ida e volta para o país, o Uruguai está enviando doses extras de vacinas para suas cidades fronteiriças e o Chile agora coloca quem chega do Brasil em hotéis de quarentena. A Colômbia não apenas proibiu vôos de entrada e saída do Brasil, mas também para sua própria cidade de Letícia, na fronteira, prendendo centenas de turistas desde o final de janeiro.
“Parece uma prisão sem grades”, disse Gladys Cuellar, que com seu marido Antonio é dona do Gava’s Amazonas, um restaurante de fast food em Letícia. Uma cidade de 50.000 habitantes, Letícia teve um número de mortos no ano passado quase três vezes maior que a média nacional. Vive do turismo e a maior parte de sua comida e suprimentos vêm do Brasil e do Peru.
“É uma decisão difícil de tomar”, disse Julian Fernandez, diretor de epidemiologia do Ministério da Saúde da Colômbia, sobre o fechamento. Embora seja virtualmente impossível impedir a cepa brasileira de se espalhar para o interior mais populoso da Colômbia, “estamos tentando reduzir o volume e a velocidade com que ela entra, para nos dar tempo de antecipar as vacinações”.
Com 50 milhões de habitantes, a Colômbia administrou apenas cerca de 600.000 doses. Está prestando atenção especial ao cinturão amazônico próximo ao Brasil, oferecendo vacina para todos com mais de 18 anos em áreas urbanas. No resto do país, com exceção dos trabalhadores da saúde, apenas pessoas com mais de 80 anos estão recebendo a primeira injeção. Autoridades globais de saúde têm expressado profundo alarme sobre o risco representado para a região pelo Brasil, enquanto 17 países proibiram a entrada de brasileiros.
A Argentina cancelou hoje uma cerimônia para marcar o 30º aniversário do bloco comercial do Mercosul à qual o presidente brasileiro Jair Bolsonaro deveria comparecer, citando o agravamento da crise de saúde na região. A cerimônia agora será realizada online. A primeira semana de março marcou os piores dias da pandemia no Brasil, com mais de 420.000 novos casos e 10.000 mortes. Lar de menos de 3% da população mundial, o Brasil é responsável por cerca de 10% dos casos e mortes de Covid.
As vacinações estão avançando lentamente.
Embora alguns governadores e prefeitos tenham imposto toques de recolher e, em raras ocasiões, bloqueios rígidos, as viagens interestaduais continuam fluidas e os aeroportos internacionais abertos. Mesmo em locais com restrições mais rígidas, a fiscalização é rara.
O presidente Bolsonaro há muito insiste que o vírus recebe muita atenção, que as máscaras e o distanciamento são para “maricas” e que a vida deve continuar.
“Estamos muito preocupados com o Brasil”, disse o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, chefe da Organização Mundial da Saúde. “E sobre os vizinhos do Brasil — quase toda a América Latina. Isso significa que se o Brasil não for sério, continuará afetando toda a vizinhança. Portanto, não se trata apenas do Brasil. ”
O Uruguai, que fechou suas fronteiras internacionais no início da pandemia, aumentou o patrulhamento ao longo de sua fronteira de terra seca com o Brasil no ano passado. O país enviou doses extras de seu primeiro carregamento de 192.000 vacinas de Coronavac para essas cidades. A ausência de uma fronteira rígida separando sua maior cidade de fronteira, Rivera, da cidade irmã brasileira, Santana do Livramento, elevou novos casos lá para o maior número do Uruguai na semana passada, devido ao fluxo de residentes e compradores diários. “Hoje nosso principal problema, sem dúvida, é o que está acontecendo no Brasil”, disse o vice-governador da província de Rivera, José Mazzoni, por telefone. O presidente venezuelano, Nicolas Maduro, disse neste mês que foram detectados 10 casos da cepa brasileira e “temos que cortar os canais de transmissão”. A Argentina está limitando vôos de vários países, inclusive do Brasil. E embora o Chile não tenha ido tão longe quanto o Peru e a Colômbia, está exigindo que todos os passageiros que estiveram no Brasil nos últimos 14 dias se dirijam a uma “residencia sanitária”, onde farão um teste de Covid. Se positivo, a pessoa fica. Se negativo, tem de ficar 10 dias em quarentena.
Nos próximos dias, a Colômbia realizará um “vôo humanitário” que levará os turistas retidos em Letícia de volta a Bogotá. Enquanto isso, Gladys — a dona do restaurante em Leticia — está ansiosa para ser vacinada. “Somos como os ratos de laboratório da Colômbia”, disse ela. “Estivemos isolados e agora veremos como vão as coisas com a cepa do Brasil.”
Fonte: Vi O Mundo

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