Tarde. Faz calor, o sol abraça com mais força. As ruas parecem que resolveram dormir, quase silêncio, escutasse bem distante o canto de alguns pássaros. O café está quentinho, está tudo quente, a cabeça fervendo. Sensação estranha. Vasculhava pela casa, tentando encontrar o que não sabia que tinha perdido. Procurava entre as pilhas de livros, os baús, as caixas guardadas dentro de outras caixas, nas pastas que guardava documentos diversos e de inúmeros anos. Até na geladeira procurou, aproveitou para tomar água, talvez fosse o que precisasse, mas ainda não era o que procurava.



Foi descobrindo a casa e encontrando pedaços de sua história. Algumas bem distantes, como o crucifixo herdado de sua mãe. Seu histórico escolar que não prometia inveja a ninguém. O caderno capa dura que servia de diário e para recordações afetivas deixadas pelos amigos na adolescência, muitos segredos e decepções, se encontrava naquele caderninho. Encontrou alguns dentes que guardava de recordação, era do filho. Encontrou sapatos velhos, descolados, mas que não poderiam ser jogados fora, era a lembrança da arte do pai, herdou dele um pé de ferro, que no tempo de criança brincava com um martelo, tentando não acertar a mão. Entre os livros encontrou algumas cartas de juras de amor eterno, mas o tempo contou outras histórias.



Era preciso respirar. O calor aumentava, mais um gole de café. As ruas pareciam que estavam acordando, já se escutava gritos de crianças, para felicidade, brincando. Passou o olhar sobre o ambiente desvendado, tinha que ter paciência redobrada, ainda faltava encontrar o que procurava e tentar esconder novamente toda a sua história.



A lua já entrava pela janela. Procurar se fez rotina, revirava os olhos, os freios, a chuva e a sorte tentando encontrar o que procurava.


*Pedagogo e artista/educador.