✅ Poema sem título
Não digam que fui rebotalho,
que vivi à margem da vida.
Digam que eu procurava trabalho,
mas fui sempre preterida.
Digam ao povo brasileiro
que meu sonho era ser escritora,
mas eu não tinha dinheiro
para pagar uma editora.
*Publicado em Quarto de despejo (1960)
Sua história de vida, relatada no livro Quarto de Despejo, diário de uma favelada, é a denúncia de uma catadora de papel, com 3 filhos para criar que sonhava em ser escritora e construir uma casa de alvenaria.
Sua narrativa conta a luta pela sobrevivência, o trauma social vivenciado desde os avós vítimas da escravidão, continuando com sua mãe lavadeira com 7 filhos.
Carolina quebrou um padrão ao se interessar pelos livros que encontrava no lixo, passou a escrever um diário onde relata sua experiência, dificuldades, desejos e reflexões.
Carolina despertou para a realidade e abriu um espaço para onservar as possibilidades além da dor e do sofrimento.
Apesar de ter conseguido sair da pobreza, ter sido reconhecida no Brasil e no exterior, a escritora não conseguiu se manter e voltou a passar dificuldades e caiu no esquecimento no final de seus dias.
Quarto de Despejo: diário de uma favelada (1960) é a descrição da realidade da população brasileira que vive nas favelas, sobrevive à margem da socidade enfrentando a desigualdade desde a gestação.
✅ Muitas fugiam ao me ver…
Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia
Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quis fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto
Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.
* Publicado em Antologia pessoal (1996). Editora UFRJ
🔵 Por que ler Carolina:
Quantas Carolinas você conhece?
Eu posso contar a história de várias mulheres que reproduzem os mesmos traumas de Carolina de Jesus, elas estão nas filas dos bancos lutando por auxílio, estão nas ruas arrastando carrinhos de reciclável, estão doentes esperando vaga, perderam os dentes e a esperança faz tempo.
Juliana Gomes

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